O 8º ENA trouxe discussões sobre os impactos do novo marco legal no dia a dia dos operadores privados de saneamento e o sobre o que se pode esperar para os próximos anos.
Promovido pela ABCON SINDCON, com patrocínio do Itaú BBA, o 8º Encontro Nacional das Águas aconteceu nos últimos dias 16 e 17.
A proposta do evento era avaliar, entre outros assuntos relevantes para o setor, os avanços de dois anos do marco legal do saneamento e, principalmente, trazer ao público os cenários futuros do setor.
A preocupação com o início da Década do Saneamento foi compartilhada logo na abertura, com a publicação da agenda para a universalização do saneamento até 2033.
Foram apresentados os números atualizados da demanda de investimentos para os próximos quatro anos, em mais um mandato presidencial, e para o período que se encerra em 2033, segundo meta estabelecida pelo novo marco legal do setor.
Representantes dos presidenciáveis dialogam com o setor
Como convidados para o painel de abertura, estiveram presentes representantes de duas das principais candidaturas à Presidência.
Tanto a ex-ministra Míriam Belchior (campanha de Lula) quanto o professor Nelson Marconi (campanha de Ciro) ressaltaram a importância do investimento privado para o saneamento.
Ambos receberam, em nome de suas coligações, o documento preparado pela ABCON SINDCON, que destaca nove compromissos a serem assumidos pelo futuro governo como diretrizes de políticas públicas para o saneamento avançar.
Inclusão social e relacionamento com os clientes
Um dos assuntos mais relevantes tratados no 8º ENA foi a “Inclusão social e a experiência das mobilizações no relacionamento com os clientes”, tema de um painel que procurou retratar a revolução pela qual as concessionárias privadas estão passando “na ponta” das operações.
A sessão trouxe iniciativas de comunicação direcionadas ao público cada vez mais amplo que as empresas passam a atender com a expansão de seus serviços e operações, a partir de novos contratos firmados já no pós-marco legal. Foram apresentados cases dos grupos Aegea Saneamento, Águas do Brasil, BRK Ambiental e Iguá Saneamento.
Um dos caminhos apontados pelas concessionárias privadas em contato com a população que passa a ter acesso aos serviços de água e esgoto é o engajamento dos líderes comunitários. Todos os exemplos mostrados pelas empresas no 8º ENA ressaltam essa aproximação com as lideranças locais.
Entre as apresentações, foram relatados casos em Alagoas e no Rio de Janeiro, onde recentes leilões ampliaram a presença da operação privada.
Um dos pilares desse relacionamento é a abertura de oportunidades e preferência no aproveitamento de mão-de-obra local para preencher as vagas de empregos diretos, inclusive com a qualificação profissional desse pessoal.
A importância do trabalho social nas comunidades
Em seguida, a mesa “Desafios sociais do Brasil e a universalização do saneamento” trouxe como convidados: o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles; o diretor executivo do Cieds (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável), Fábio Muller; e o especialista Danilo Moura, da Unicef Brasil.
O debate levou em consideração algumas das questões levantadas pelo painel em que as empresas apresentaram seus cases. Os convidados recomendaram às operadoras de saneamento entender a realidade das comunidades atendidas e se conectar com essas pessoas, considerando seus desejos e valores.
“É preciso que as empresas possam ir além da lógica da demanda. O que as empresas chamam de clientes são na verdade os brasileiros que agora vivem a expectativa de ter saneamento. Gente não é número”, defendeu Renato Meirelles.
Ele apresentou dados levantados pelo Instituto Locomotiva e seus parceiros sobre a parcela de baixa renda da população, a fim de que todos pudessem compreender melhor o universo desses brasileiros que enfrentam muitas dificuldades – inclusive o esgoto a céu aberto, que se apresenta como o grande desafio da participação privada no saneamento.
“Essas pessoas querem e valorizam a dignidade. É preciso se conectar com elas. São elas que compõem a maior parte do consumo no país. Ações sociais hoje são necessidade, são estratégia de negócios”, concluiu Renato.
“A privação em saneamento é a mais comum entre as crianças no Brasil, e isso é uma grande preocupação, afinal elas são mais suscetíveis a doenças provocadas pela falta de esgotamento sanitário”, alertou Danilo, da Unicef.
Fábio, do Cieds, lembrou que a pobreza permanece muito presente na vida do brasileiro. “Ainda hoje temos 5200 escolas sem banheiro, e elas são muitas vezes o único equipamento público básico a que as pessoas têm acesso. Mudar essa realidade exige muito diálogo, e as empresas precisam ter a coragem de estimular essa mudança”, disse ele.
Demandas tecnológicas em pauta
“Desafios Técnicos Pós-Marco Legal do Saneamento” foi outra aguardada mesa do 8º ENA. Ela teve como premissa discutir o impacto da expansão do setor no âmbito tecnológico, com a apresentação de cases sobre aproveitamento do lodo, reúso, atendimento a áreas de baixa densidade demográfica, entre outras demandas.
Na avaliação do Comitê Técnico da ABCON SINDCON, um dos reflexos da evolução do saneamento, ao buscar a universalização requerida pelo novo marco legal, é a geração cada vez maior de efluentes e lodo, resultantes do tratamento de esgoto.
Durante o 8º ENA, as concessionárias privadas deram uma mostra das iniciativas que já estão operando para lidar com o lodo, que, graças à tecnologia, podem se tornar recursos para produção de energia e outras aplicações.
A mesa contou com os especialistas da GS Inima Brasil, TAE, Grupo Águas do Brasil, CSJ, Iguá Saneamento e Aegea Saneamento.
Um futuro marcado pela inovação
A inovação no saneamento é inevitável e está sendo implantada em diversas frentes, sob o impacto de diferentes tecnologias, como a inteligência artificial e a digitalização, e de novas abordagens em áreas como a comunicação e o financiamento.
Esse pode ser um resumo do painel de encerramento do 8º ENA, que adotou o tema “O Futuro já começou”. A diversidade de soluções e propostas foi a tônica do encontro. A mesa de debates registrou ampla participação dos associados da ABCON SINDCON, recebendo para a conversa especialistas da Iguá Saneamento, BRK Ambiental, Veolia, Aegea Saneamento e Grupo Águas do Brasil.
A íntegra desse e dos demais painéis do 8º ENA pode ser acessada no canal do YouTube da ABCON SINDCON.