A alta de produtos e insumos pode respingar nas tarifas e quem acaba pagando a conta são os clientes finais
A inflação de produtos e insumos que vem atingindo toda a economia nos últimos meses também pesou no segmento de saneamento, mas isso não deve mudar os planos das empresas privadas que atuam no setor. A alta de preços é considerada conjuntural e deve perder força em algum momento nos próximos meses. Aliado a isso, o setor é marcado por investimentos e retornos de longo prazo.
Percy Soares Neto, presidente da Abcon, entidade que reúne as concessionárias privadas de serviço públicos de água esgoto, diz que o setor vive um momento de “disfunção na cadeia de fornecedores” e que tem sido obrigado a reestruturar sua operação, mas isso não tem afetado tanto o desempenho das concessões já assinadas como também não deve tirar o interesse das empresas nos futuros leilões.
“Não temos notícias de falta de produtos. Existem problemas com prazos de entrega e preços mais altos”, diz. Soares conta que as empresas estão buscando novos fornecedores, substituição de produtos e até recorrido a importações em alguns casos. “Tem de reestruturar a operação para se adaptar a uma nova realidade.”
Apesar do cenário mais difícil no curto prazo, o dirigente diz que não deve haver impacto financeiro maior para as atuais concessões, mesmo que as condições econômicas tenham se alterado desde o momento da assinatura dos contratos. Ele destaca que o setor é marcado por baixa elasticidade na demanda e projetos de longo prazo. “Pandemia, guerra e outros fatores são conjunturais e tendem ser superados.” O pior efeito, diz ele, é que essa alta de produtos e insumos pode respingar nas tarifas e quem acaba pagando a conta são os clientes finais.
Já para as futuras concessões, o impacto deve ocorrer sobre o valor das outorgas. Com a alta de custos na planilha de cálculos, o setor tende a reduzir o valor das outorgas ofertadas para fechar a conta. A atratividade, segundo o dirigente, está nas perspectivas de ganhos no longo prazo, já que se tratam de contratos de 30 anos.
Para minimizar os efeitos dessa disfunção na cadeia logística, o setor tem se aproximado dos fornecedores. O objetivo é tentar definir um cenário futuro de demanda por produtos e serviços, como por exemplo tubos e químicos, para que os fornecedores possam se programar e evitar problemas de abastecimento.
Soares diz que é preciso mostrar que o setor não vive um “voo de galinha”, mas tanto as concessões já assinadas como os futuros leilões mostram que a demanda por produtos e serviços vai se manter nos próximos anos. Ele acredita que um movimento maior de concessões deve ocorrer no próximo ano, após a definição do novo governo, mas existem ainda bons projetos municipais e alguns estaduais para 2022. Um exemplo é a PPP no Ceará, conduzida pelo BNDES, que prevê a universalização dos serviços em duas regiões no Estado. O investimento previsto nos dois blocos passa de R$ 7 bilhões.
Quanto ao resultado das eleições para presidente da República, o presidente da Abcon afirma que o setor tem consciência que ao assumir uma concessão de saneamento por um período longo vai passar por vários “ciclos de governo”. As possíveis alternâncias no poder já estão nas contas das empresas.
Fonte: Valor Econômico