Um encontro de CEO´s e executivos das maiores holdings que atuam no saneamento abriu o segundo e último dia do 9º Encontro Nacional das Águas, em São Paulo. Promovido pela ABCON SINDCON, a associação das operadoras privadas de saneamento, o ENA contou com mais de 12 mesas de debates e a participação de cerca de 500 pessoas ao longo de dois dias de evento. O clima entre os principais players do segmento privado atuante no saneamento é de otimismo: houve grande expansão nos últimos cinco anos no atendimento, e a perspectiva é de elevar ainda mais a participação em 2025, quando os investimentos deverão ser de R$ 72,4 bilhões em novos projetos a serem licitados.

Os executivos dos grupos Aegea, Águas do Brasil, GS Inima, Iguá e também a Sabesp trouxeram ao ENA seus modelos de negócios e suas experiências no saneamento. A conclusão de todos é que o setor tem evoluído muito nos últimos anos, principalmente a partir do marco legal do saneamento, aprovado em 2020. Outro ponto comum entre eles é a visão de que as concessionárias privadas unidas para levar saneamento a todos nos próximos anos, em parceria com o poder público.

“A necessidade de parceria entre o poder público e a iniciativa privada para fazer frente à enorme demanda de investimentos do saneamento fez com que essas duas esferas se aproximassem. Dessa forma, a ABCON SINDCON se tornou um player que hoje encaminha soluções para todo o setor. Essa é uma outra evolução do ambiente institucional do saneamento no Brasil que merece ser assinalada”, disse Roberto Barbuti, presidente do Conselho de Administração da entidade e também presidente do grupo Iguá.

A diretora-executiva da ABCON SINDCON, Christianne Dias, acompanhou a análise do CEO da Iguá. “Queremos ser cada vez mais atuantes nesse esforço de o Brasil conseguir atender a todos com água e esgoto tratados até a data estabelecida pelo marco legal do saneamento. O fato de termos um crescimento de 466% no período pós-marco mostra que a parceria com o setor privado é essencial para acelerar a universalização e oferecer serviços de qualidade para a população”, afirmou ela.

Barbuti destacou ainda em sua participação os investimentos que a Iguá tem realizado em suas concessões. Na Iguá Rio, que atua na zona oeste do Rio de Janeiro e outros municípios do estado, já há ganhos ambientais importantes como resultado da atividade da concessionária, que aposta na proximidade com a comunidade atendida.

Avanço – as operadoras privadas estão ganhando destaque em um setor que precisa universalizar seus serviços até 2033. Em 2019, elas estavam presentes em apenas 5% dos municípios e, agora, já alcançam a marca de 1.648 municípios, o que representa 30% das cidades brasileiras. 

Presidente do grupo GS Inima Brasil, o executivo Paulo Roberto de Oliveira – um dos pioneiros na gestão privada do saneamento no país – comentou a respeito desses números: “Quando começamos, a participação privada era minúscula, mas sempre tínhamos a perspectiva de expandir. Quando essa fatia de mercado ainda girava em torno de 3%, eu já defendia que a iniciativa privada chegaria a ter 30% de participação em menos de dez anos. Demorou um pouquinho mais, mas alcançamos essa meta. E agora ouso dizer que as concessionárias privadas vão atender em breve 50% dos municípios brasileiros”, avaliou ele.

Paulo Roberto lembrou que a cidade de Ribeirão Preto, onde a GS Inima atua há quase 30 anos, foi uma das primeiras cidades a ter gestão privada no saneamento, e hoje se coloca entre os municípios que possuem os melhores índices de cobertura dos serviços de água e esgoto no país.

Modelos de negócios – vice-presidente de relações institucionais da Aegea, Rogério Tavares disse que o grupo está aberto à análise de todos os modelos possíveis de novos projetos no saneamento. Ele conta que a Aegea passou de 4 mil funcionários em 2017 para os atuais 20 mil, em função da expansão da companhia nos últimos anos, ao assumir a empresa que pertencia ao governo estadual no Rio Grande do Sul, a Corsan, e outras concessões importantes, como a do Piauí, recentemente licitada

“Esses números mostram que o marco legal veio para ficar, é um processo irreversível. Com essa expansão, as operadoras privadas assumiram um papel essencial para resgatar a enorme dívida social do saneamento, onde quem mais precisa do serviço e está à margem dele são exatamente os mais vulneráveis”, ponderou Rogério. 

“Já temos um histórico importante de transformações nas cidades em que a iniciativa privada atua e a tendência é que essa presença transformadora seja cada vez mais acentuada. Nós estamos prontos para mudar o quadro do saneamento no país”, afirmou a diretora de relações institucionais e sustentabilidade do Grupo Águas do Brasil, Marilene Ramos. Ela apresentou no 9º ENA algumas das concessões bem-sucedidas do grupo, como a de Águas de Juturnaíba, cuja atuação foi fundamental para recuperar a Lagoa de Araruama, e a de Niterói, onde a companhia conseguiu resolver o crônico problema de falta de água na região oceânica. 

Recém-chegada ao rol de empresas privadas, a Sabesp também antecipou contribuições que fará ao setor com seu novo modelo de negócios. “A empresa trará para o mercado várias inovações que irão fortalecer a parceria entre o público e o privado, e a ideia é que tenhamos no futuro melhores contratos para alcançar a tão sonhada universalização”, assinalou Samanta Souza, diretora de relações institucionais e sustentabilidade da Sabesp.

Encerramento – o 9º ENA foi concluído na tarde deste dia 13.11 com painéis sobre o impacto da reforma tributária na universalização do saneamento e mudanças climáticas. 

O setor volta a levar seu pleito de equiparação à saúde na reforma tributária amanhã (14.11) em audiência na CCJ do Senado sobre a regulamentação do tema. 

“O impacto da reforma tributária nos atuais moldes, sem considerar o saneamento como saúde, será brutal não apenas para a sustentabilidade do setor, mas principalmente para a população em geral, que já possui e serviço e deverá arcar com um aumento médio de 18% na tarifa, bem como aqueles que ainda não possuem água e esgoto tratados. Trata-se da parcela mais vulnerável da população, que será prejudicada com qualquer atraso na universalização, que já está a caminho, graças ao marco legal”, finalizou Christianne Dias, da ABCON SINDCON.