Impactos ambientais
Os esforços e investimentos para o Brasil atingir a universalização dos serviços de água e esgoto não representam apenas a trilha para a retomada econômica. Eles podem ser considerados o maior programa ambiental em curso no país.
Despoluição de rios e mananciais, recuperação de áreas degradadas, uso de energias renováveis e sustentabilidade são alguns dos inestimáveis ganhos que o avanço do saneamento deve proporcionar ao país nos próximos anos a partir do novo marco legal do setor.
Segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o Brasil possui mais de 83 mil quilômetros de rios poluídos (2019). O país despeja quase 6 mil piscinas olímpicas por dia de esgotos não tratados na natureza, de acordo com o Instituto Trata Brasil (2019).
Alcançar a universalização do tratamento de esgoto a partir de investimentos maciços nos próximos anos é a resposta para atenuar radicalmente esse dano diário aos mananciais.
O saneamento básico será o setor de infraestrutura com maior impacto econômico e ambiental nos próximos anos no Brasil.
Saneamento e ODS
Água limpa e saneamento constituem o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6 da chamada Agenda 2030 da ONU.
O ODS 6 conclama o mundo a assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos.
Sob essa perspectiva, as concessionárias de saneamento assumem, portanto, um papel fundamental na busca pela água e esgoto tratado como direito humano a ser assegurado.
Saneamento e ESG
Diante do desafio da universalização, acentua-se a necessidade de enquadramento dos investimentos do setor em ESG (Environmental, Social and Corporate Governance).
As concessionárias de saneamento adotam por princípio a chamada Gestão ESG, que foca nas melhores práticas para atender concomitantemente as demandas do meio ambiente, da sociedade e dos acionistas.
Há vários exemplos de como se alinhar aos princípios do ESG. Entre as possibilidades, nesse contexto, podem ser citadas: a transformação das estações de tratamento de esgoto em fontes de insumos, promovendo a sustentabilidade; o uso de energia renovável; e o incentivo à preservação de rios e outros recursos naturais.
Indicadores Socioambientais das operadoras privadas
Levantamos entre as concessionárias privadas os principais dados sobre o desempenho socioambiental das empresas durante a coleta de dados SPRIS 2019. O resultado indica um segmento que se adapta com rapidez às demandas impostas pelo ESG.
ESG
Relatamos a seguir alguns cases de concessionárias privadas que apresentam como diferenciais:
- Despoluição de corpos hídricos
- Recuperação de áreas verdes
- Capacitação de moradores para atividades sustentáveis
- Reaproveitamento do lodo de esgoto
- Aplicação da água de reuso
- Aproveitamento da energia solar
- Engajamento em campanhas públicas
- Programas educativos/pedagógicos
- Programas de cidadania
- Compliance — medidas/orientações da entidade voltadas para a consolidação do conceito
Aquapolo (SP)
Contrato privado
Considerado o maior empreendimento para a produção de água de reuso industrial na América do Sul, e um dos maiores do mundo, o Aquapolo é operado pela GS Inima Industrial desde 2019. A unidade é resultado da parceria entre a GS Inima e a Sabesp.
O Aquapolo utiliza o esgoto de 1,5 milhão de habitantes da área entre a capital e a região do ABC paulista, para, depois de seu tratamento na ETE do ABC, produzir 1.500 litros de água de reuso, dos quais 650 litros são entregues às empresas do Polo Petroquímico do ABC. Esse volume é equivalente ao abastecimento de uma cidade de 500 mil habitantes.
O trabalho do Aquapolo começa ainda nas estações elevatórias da Sabesp, que bombeiam o esgoto até a ETE do ABC. Sensores instalados nas elevatórias determinam o nível de toxidade da carga que chegará à ETE no curto prazo. Após o processo de tratamento, a vazão que seria destinada ao Córrego dos Meninos (curso d’água para onde é enviada a água após o tratamento) segue para o Polo Petroquímico do ABC, onde é utilizada em vários processos, evitando assim o uso de água potável em aplicações industriais.
De acordo com a unidade, a confiabilidade operacional é acima de 99,9%, qualidade superior em água de reuso. O Aquapolo é pioneiro no aproveitamento de efluentes sanitários para a indústria, contribuindo com a sustentabilidade ambiental e ajudando o crescimento econômico da região, uma vez que água, em conjunto com energia elétrica, são insumos indispensáveis a qualquer processo produtivo.
Arapiraca (AL)
PPP Água
Os agricultores da cidade de Arapiraca (AL) estão reaproveitando a manta de polipropileno na agricultura familiar e já percebem as melhorias na produção de hortaliças e verduras. A manta de geobag e polipropileno com proteção UV, é utilizada no tratamento de água; na agricultura, é colocada diretamente sobre o solo, permitindo o cultivo de mudas, com passagem de água e luminosidade, favorecendo a produtividade e reduzindo os gastos com a manutenção da plantação. Considerado pioneiro no estado, o método favorece a produtividade, além de reduzir os gastos com a manutenção da plantação.
A distribuição das mantas faz parte do projeto Agreste Rural, realizado desde 2018 pela concessionária Agreste Saneamento, do Grupo Iguá. Os primeiros kits foram entregues em 2019 para sete famílias de agricultores. O projeto funciona em parceria com a prefeitura municipal de Arapiraca, que faz o cadastro dos produtores, preferencialmente orgânicos, para o recebimento das geobags.
Dessa forma, 100% dessas mantas utilizadas no tratamento da água são recicladas. Além de sustentáveis, elas garantem uma economia de 40% de água nas lavouras e reduzem o consumo de agrotóxicos, pois atuam como uma barreira protetora entre o solo e a vegetação.
Vale destacar ainda outros avanços da Agreste Saneamento (Grupo Iguá), PPP de água que atende Arapiraca e mais nove municípios de Alagoas. A empresa conseguiu importantes resultados na redução de perdas com o uso da tecnologia pipers, que identifica corrosões acentuadas nas tubulações.
Foi elaborado também um trabalho de pesquisa e desenvolvimento em busca de uma nova tecnologia de vedação, com gaxetas injetáveis. Entre janeiro/2020 e julho/2020, enquanto era utilizada a gaxeta por cordas, foram realizadas 53 intervenções nos equipamentos; depois da mudança, apenas cinco dessas intervenções foram necessárias.
Araruama, Saquarema e Silva Jardim (RJ)
Concessão Plena
A concessionária Águas de Juturnaíba (Grupo Águas do Brasil) realiza, em parceria com o Comitê de Bacia Hidrográfica Lagos São João, um projeto de educação ambiental para restaurar a mata ciliar da represa de Juturnaíba. A iniciativa já reflorestou mais de 9 hectares de mata, que ficam três anos sob observação de profissionais para garantir que o replantio se estabeleça no local, e atingiu mais de mil pessoas com ações educativas.
A iniciativa trouxe impactos importantes e benéficos para o ecossistema local. Alguns deles são o sequestro e neutralização de carbono promovido pela área verde replantada; o retorno da fauna nativa, que por muitas vezes já deixou o local; aumento do volume de água nos corpos hídricos da região, por meio da recomposição de nascentes e olhos d’água; proteção das margens da represa; redução de erosão e, consequentemente, diminuição do assoreamento da represa de Juturnaíba e de seus contribuintes, além de promover a conscientização da população quanto à sustentabilidade e preservação do meio ambiente.
Anualmente, a concessionária promove a limpeza da represa de Juturnaíba, manancial que abastece oito cidades da Baixada Litorânea do Rio de Janeiro. Com o apoio de órgãos públicos e voluntários, são realizadas ações de conscientização da população local sobre o descarte inadequado de lixo e seus danos ao meio ambiente. Em 11 edições de projeto, já foram removidas mais de duas toneladas de lixo do manancial (garrafas pet e sacolas, pneus, restos de eletrônicos, de eletrodomésticos e de móveis).
Atibaia (SP)
PPP Esgoto
Todo o lodo gerado no processo de tratamento de esgoto da cidade de Atibaia é transformado em fertilizantes por meio de compostagem. Com a iniciativa, iniciada em março de 2020, cerca de 40 toneladas de lodo geradas mensalmente deixaram de ser descartadas em aterro sanitário e passaram a ser reaproveitadas como adubo para a agricultura. Cada 2,6 toneladas de resíduos rende uma tonelada de fertilizante orgânico.
Para realizar esse processo, a concessionária Atibaia Saneamento, do Grupo Iguá, envia o lodo para uma empresa que utiliza o sistema termofílico, a fim de que sejam removidos os patógenos. O produto final fica parecido com terra, rico em nutrientes, e é um ótimo adubo reutilizado pelos agricultores.
No ano de 2020, a Atibaia Saneamento cooperou com a produção de 184,6 toneladas de fertilizante agrícola — o composto pode ser até 50% mais barato que os fertilizantes sintéticos, além de apresentar uma eficiência superior, se comparado aos demais. O que seria lixo é reaproveitado para gerar também movimentação econômica, agregando valor e impacto social ao processo.
Grupo Aegea – Projeto Pioneiros
Com o objetivo de estimular o pensamento inovador de estudantes de ensino médio de escolas públicas e ampliar informações sobre a importância dos serviços de saneamento, a Aegea realiza desde 2019 o Projeto Pioneiros. Profissionais das concessionárias do grupo atuam como tutores voluntários para levar para os jovens conhecimento sobre o mercado de trabalho, serviços de abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto, com o objetivo de estimular e desenvolver reflexões sobre o futuro profissional dos estudantes, além de criatividade e inovações para o setor.
Os jovens passam por um período de palestras e atividades nas concessionárias, com duração de quatro meses, e têm acesso aos cursos disponíveis na Academia Aegea. Em seguida, são desafiados a desenvolver um projeto propondo solução criativa a um problema identificado em sua comunidade. Os projetos elaborados pelos jovens concorrem a prêmios nas concessionárias e os melhores se classificam para a etapa nacional, sendo premiados pela Aegea.
Em 2020, sua segunda edição, o Pioneiros contou com a participação de 106 jovens de 10 municípios onde a Aegea opera: Manaus (AM), Barcarena (PA), Teresina (PI), Timon (MA), Barra do Garças (MT), Campo Grande (MS), Campo Verde (MT), Primavera do Leste (MT), Sinop (MT) e Sorriso (MT). No ano passado o projeto teve de passar por reformulação devido à pandemia, sendo agora aplicado de forma on-line.
Entre os principais resultados já observados com os jovens que passaram pelo curso estão a contribuição para redução da evasão escolar, desenvolvimento de projetos, fortalecimento do relacionamento da empresa com as comunidades, estímulo ao trabalho voluntário e ainda abertura para oportunidades de trabalho. Alguns jovens Pioneiros têm a chance de serem contratados como aprendizes ao final do projeto, ou mesmo serem efetivados pela empresa.
“Nas conversas com os tutores, nós percebemos que a dinâmica de troca com os jovens estudantes cria uma visão de futuro, visão de disciplina e, de certa forma, ilumina o caminho de desenvolvimento desses jovens, cujo destino é cuidar de suas comunidades. Essa retroalimentação entre profissionais e estudantes vai gerar frutos surpreendentes no futuro”, destaca Radamés Casseb, presidente da Aegea Saneamento.
Guaratinguetá (SP)
PPP Esgoto
Desde 2008, a concessionária Guaratinguetá Saneamento (Grupo Iguá) é responsável pelos serviços de coleta e tratamento de esgoto para uma população de quase 110 mil habitantes. Com o objetivo de promover a sustentabilidade, reduzindo o consumo de água potável para fins menos nobres nos serviços de desobstrução de rede, desde dezembro de 2020 a empresa passou a reutilizar o efluente tratado para abastecer caminhão hidrojato. Com a iniciativa, a estação conseguiu reduzir significativamente o consumo de água potável que antes era necessária para realizar serviços de desobstrução das redes coletoras.
A concessionária estima uma economia de 150 m³ por mês com o reuso do efluente tratado. O volume é suficiente para abastecer cerca de 750 pessoas por mês e 9 mil pessoas no ano.
A utilização do efluente tratado para fins urbanos vem se destacando no estado de São Paulo desde 2017, quando a Resolução Conjunta SES/SIMA nº01 foi criada. A implantação do sistema de reuso é eficiente para rápida redução de consumo e custos com água potável, com retorno rápido e de baixo custo.
Jundiaí (SP)
Concessão Parcial de Esgoto
Há mais de 15 anos, a concessionária Companhia Saneamento de Jundiaí mantém a Casa da Fonte, projeto social de grande relevância. No último ano, a pandemia fez com que a iniciativa precisasse mudar sua estratégia de atendimento, reforçando seu viés assistencial em detrimento do apoio à educação básica e profissionalizante. Essa mudança foi necessária para que a Casa da Fonte pudesse ajudar da melhor maneira as pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade.
Além de doações feitas pela CSJ, houve a busca de parceiros dispostos a unir esforços para atender um número maior de famílias. Com isso, a Casa da Fonte conseguiu ampliar sua capacidade para levar condições básicas e carinho às famílias carentes.
Entre março de 2020 e março de 2021, foram produzidas e doadas mais de 16 mil máscaras e 15 mil aventais descartáveis aos serviços de saúde de Jundiaí. Além disso, foram entregues nos domicílios das famílias cadastradas: 1.247 cestas básicas; 4.066 cestas com hortifruti, pães, biscoitos, sopas, ovos e leite; 883 kits de higiene pessoal; 337 kits de brinquedos e livros; e 2.474 apostilas com matéria e exercícios de português, matemática, alfabetização e de apoio às emoções, para crianças sem acesso à internet.
Para aqueles que possuem acesso à internet, a Casa da Fonte continuou transmitindo conhecimento por meio de aulas on-line, disponibilizadas nos seus canais no YouTube, Instagram, Facebook e em grupos de WhatsApp. Os atendimentos de assistência social também foram ampliados. Apenas entre março e dezembro, foram realizados 636 atendimentos.
Mogi Mirim (SP)
Concessão Parcial de Esgoto
Operadora de serviços de esgotamento sanitário, a concessionária Serviços de Saneamento de Mogi Mirim (SESAMM, controlada pela GS Inima Brasil e Sabesp) passou a gerar energia para uso operacional com a implantação de uma usina de captação de energia solar por meio de placas fotovoltaicas.
A usina UFV responde por cerca de 30% da energia necessária à operação da ETE de Mogi Mirim, que tem capacidade para tratar 150 litros de esgoto por segundo (88% do volume gerado pela população). Além disso, toda a água para fins não potáveis utilizada na ETE é de reuso.
Petrópolis (RJ)
Concessão Plena
Os biodigestores da concessionária Águas do Imperador (Grupo Águas do Brasil) são referência nacional e internacional pelo seu valor socioambiental. Além de tratar o esgoto de comunidades carentes de difícil acesso, a empresa realiza um trabalho de educação ambiental na região e, sempre que possível, utiliza mão de obra local na construção.
Os filtros dos biodigestores são feitos com milhares de pneus e garrafas PET, materiais altamente poluentes, que são retirados da natureza e ainda ganham função despoluente. Não há cobrança de tarifa pelo tratamento, e o biogás gerado é utilizado em creches e por moradores da própria comunidade.
Além disso, os biodigestores não consomem energia elétrica, tratam o esgoto no local onde ele é gerado e, ao final do processo, o efluente é devolvido aos rios com até 85% de pureza em relação à carga orgânica inicial.
Atualmente, a concessionária administra dez biodigestores, o que garante o reaproveitamento de um total de 280 mil garrafas PET e quase três mil pneus.
Piracicaba (SP)
PPP Esgoto
O município, de aproximadamente 408 mil habitantes, ganhou notoriedade nacional por melhorias na operação e resultados com a sustentabilidade. Responsável pelos serviços de coleta e tratamento de esgoto na cidade, a concessionária Águas do Mirante, do Grupo Aegea, passou a reaproveitar o lodo que sobra do tratamento de esgoto para ser usado como adubo. O expressivo investimento na operação inclui o tempo dedicado à pesquisa e inovação para possibilitar o emprego do material na agricultura. O projeto tem a participação do campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP).
Cerca de 900 toneladas de lodo recolhidas nas ETEs da cidade são levadas até uma espécie de estufa para a secagem. Em menos de um mês, o resíduo diminui em três vezes seu volume inicial, ganhando o aspecto de terra. É quando ele está pronto para ser utilizado como adubo para a agricultura, por possuir grandes concentrações de nutrientes. O projeto é considerado de grande benefício para o meio ambiente. Antes da implantação da secagem, todo o lodo das estações era destinado para o aterro sanitário.
Outro trabalho importante para garantir os índices do esgotamento e melhoria na qualidade de vida da população foi a implantação de redes coletoras em comunidades localizadas em regiões que não faziam parte do escopo da concessão. A ação é realizada desde 2017 e, com ela, já foram instalados mais de 10 quilômetros de redes. Treze comunidades foram beneficiadas, contabilizando cerca de 2 mil famílias.
Resende (RJ)
Concessão Plena
Desenvolvido pelo Grupo Águas do Brasil, o programa Olhar Ambiental possibilita o planejamento e o gerenciamento das ações de educação ambiental realizadas pela holding e suas concessionárias. A iniciativa já beneficiou cerca de 170 mil pessoas desde sua implantação, em 2014.
Em 2020, o programa alcançou 1.853 pessoas com a adaptação de algumas das atividades propostas, prezando pela segurança dos participantes e das equipes envolvidas, frente à pandemia da Covid-19.
Em Resende, a Águas das Agulhas Negras, pertencente ao Grupo, é uma das concessionárias que desenvolve bastante o programa, atendendo pessoas nas atividades de visita técnica às estações de tratamento de água e esgoto, oficinas e eventos socioambientais.
Com o atual cenário de pandemia, a concessionária disponibilizou um tour virtual pela ETA Alegria, através do projeto Olhar Ambiental 360º. A iniciativa permite uma experiência totalmente imersiva em realidade virtual, levando o visitante a conhecer todos os processos utilizados no tratamento da água.