O novo marco legal impõe enormes desafios tecnológicos às operadoras privadas de saneamento, inclusive na disposição de resíduos sólidos. Por outro lado, há oportunidades que podem surgir a partir desse novo cenário, em que é preciso acelerar e multiplicar os índices de tratamento de esgoto no país.

Com a premissa de discutir o impacto da expansão do setor no âmbito tecnológico, o painel “Desafios Técnicos no Pós-Marco Legal do Saneamento” reuniu especialistas para trazer algumas das experiências bem-sucedidas das operadoras privadas com o aproveitamento do lodo, reúso e atendimento à população rural.

Eduardo Pedroza, da GS Inima Industrial, falou sobre as perspectivas do reúso de água no Brasil, com destaque para a operação do Aquapolo, a maior planta de produção de água de reúso industrial da América Latina. “A tecnologia do reúso está no centro de várias questões como a crise energética, segurança hídrica, recarga de manancial e drenagem urbana. Algumas das soluções já praticadas em outros lugares do mundo ainda precisam passar por regulações para serem adotadas aqui no Brasil. A segurança jurídica é decisiva para alavancar novos projetos”, ponderou ele.

A necessidade de se atender comunidades rurais também será um fator a ser considerado na busca de soluções tecnológicas para um cenário em que se almeja a universalização. Rodrigo Davienne, da TAE, apresentou as soluções da empresa para atender a essa demanda, que envolve 31 milhões de pessoas, a maior parte sem acesso a condições adequadas de saneamento. Entre essas soluções, temos os chamados sistemas descentralizados com tratamento aeróbico e uso da tecnologia de biomassa aderida.

O último bloco do painel focou na questão do lodo e resíduos, com uma apresentação inicial de André Lermontov, do Grupo Águas do Brasil, sobre as rotas tecnológicas para o beneficiamento do lodo. Ele explicou que as empresas buscam hoje viabilizar ao máximo o reaproveitamento dos resíduos sólidos. Entre essas possibilidades, citou a aplicação do lodo na agricultura, recuperação de áreas degradadas, reflorestamento, indústria cimenteira e construção civil (com o lodo de ETA).

José Gabriel Monteiro, da CSJ, mostrou o case de compostagem do lodo realizado pela concessionária em Jundiaí. Ele contou que o produto obtido ao final do processo – fertilizante orgânico – tem sido muito procurado por produtores agrícolas. A produção de 4 mil toneladas/mês tem se esgotado nos últimos dois anos e meio.

Valdir Antonio Alcarde Jr., da Aegea Saneamento, falou sobre a implantação do sistema de secagem de lodo e compostagem em Piracicaba, onde opera a PPP Águas do Mirante. O projeto optou pela tecnologia de secagem solar, que diminuiu em mais de três vezes o volume do lodo, com enorme redução do impacto ambiental.

A alternativa da secagem solar de lodos também foi adotada em Araçatuba, conforme apresentado por Eduardo Berrettini, da GS Inima Brasil. Ele lembrou que a opção de se levar o lodo até os aterros sanitários já apresenta dificuldade, com altos custos. “O custo da disposição do lodo se tornou algo cada vez mais significativo ao longo dos últimos 15 anos. Hoje, os projetos precisam considerar o respeito ao meio ambiente e à economia circular”, acrescentou. O sistema em Araçatuba possibilitou a redução de 4 mil toneladas de lodo destinado a aterros entre 2020 e 2021.

Rodrigo Pereira, da Iguá Saneamento, fechou o painel apresentando o plano de gerenciamento de lodo em Cuiabá. O sucesso do projeto envolveu a realização de um piloto, acordos de cooperação técnica e o engajamento e treinamento dos agricultores. “Em Cuiabá, conseguimos atrair a atenção de pequenos e médios agricultores para receber esse material”, contou ele.

 

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