Roberto Muniz
presidente executivo da ABCON
Alguém aí já viajou para o Exterior ou teve a oportunidade de conversar com um estrangeiro?
Quem já passou por uma dessas situações provavelmente teve a chance de ouvir um pouco mais sobre a opinião de outros povos sobre nós, brasileiros. “Somos alegres, criativos, gostamos de samba, carnaval e futebol. E temos água… Muita água…”
De todos esses clichês, pelo menos um a gente já não consegue mais sustentar: o Brasil tem água sim, mas está longe de ser o bastante para evitar a chamada crise hídrica.
Em abril, quando estive na Coreia, participando do Fórum Mundial da Água, foi difícil explicar aos especialistas de outros países que, mesmo possuindo 12% das reservas de água doce do planeta, falta o recurso periodicamente nas torneiras de boa parte da população aqui no Brasil.
Apesar do inusitado, não era a primeira vez que tentava mostrar a dura convivência com a falta de água para quem não está acostumado com essa realidade. Afinal, sou um nordestino que, ainda jovem, morou em um acampamento de obra no semiárido baiano, e viu de perto o flagelo da seca.
Hoje, no Brasil, a chamada crise hídrica se tornou assunto de todas as regiões. Isso porque a falta de água potável não é mais uma recorrência isolada aos rincões do Nordeste. É uma questão que interessa a todos, é conversa diária nas praças, no trabalho, nas escolas.
E nós, que atuamos no saneamento, somos privilegiados, porque podemos esclarecer outras pessoas sobre a importância não apenas da economia imediata, que precisa ser feita para garantir a água de amanhã, mas também da necessidade de se planejar e administrar os nossos recursos hídricos, de proteger os mananciais, de coletar e tratar o esgoto, para que a água do futuro também não falte.
Sempre que tiver a oportunidade, converse com as pessoas sobre esses problemas e mostre que há alternativas para que o Brasil não passe mais esse aperto todo no abastecimento de água – inclusive existe a opção da operação e gestão dos sistemas pela iniciativa privada, onde nós trabalhamos.
Garanto que não será preciso gastar o seu inglês – ou coreano – para convencer a todos da necessidade de cuidarmos melhor dos nossos recursos hídricos.