Dessalinizadora Mostaganem, da GS Inima, na Argélia

Vista durante muito tempo como uma tecnologia distante para as necessidades do Brasil, a dessalinização está chegando ao país e veio para ficar.

As empresas privadas de saneamento são pioneiras na utilização dessa tecnologia como forma de comba-ter a escassez de água e promover a segurança hídrica.

A dessalinização consiste basicamente em tornar a água do mar, que representa 97% da água existente no planeta, em insumo próprio para o consumo humano. A tecnologia utiliza processos físico-químicos que retiram da água marinha o excesso de sais minerais, impurezas e partículas sólidas, a fim de tornar a água potável e própria para o consumo humano.

Estima-se que pelo menos 300 milhões de pessoas dependam hoje do abastecimento proporcionado pelas usinas de dessalinização espalhadas por todos os continentes. Regiões como o Oriente Médio, o norte da África e algumas ilhas do Caribe são hoje bastante dependentes dessas usinas. Em Israel, a maior parte da água potável consumida vem do mar.

Para se tornar viável economicamente, a pesquisa sobre dessalinização focou na redução do custo com energia e na preocupação com o meio ambiente. A energia, por si só, pode representar até um terço do custo total de produção de água.

Apesar de o Brasil possuir uma usina pioneira em Fernando de No-ronha, o primeiro grande projeto de dessalinização no país deverá ser implantado em Fortaleza. O governo do estado do Ceará, em projeto realizado em parceria com a iniciativa priva-da, pretende investir em uma usina de dessalinização de capacidade de 1 m³/s que possa abastecer 400 mil pessoas, ou aproximadamente 12% da população total da região metropolitana de Fortaleza.

A solução é vista como necessária para evitar que a crise hídrica se aprofunde no Ceará. A água consumi-da em Fortaleza chega principalmente do açude do Castanhão, que fica a 280 quilômetros da cidade e está perdendo sua capacidade ano após ano, desde 2002, quando começou a operar. Nos últimos anos, tem opera-do com apenas 3% de sua capacidade.

O projeto total da usina de dessalinização de Fortaleza está orça-do em aproximadamente R$ 500 milhões.

Estudo de viabilidade já foi escolhido

O Grupo GS Inima, em parceria com as empresas Teixeira Duarte e Fujita Engenharia, apresentou estudo, declarado vencedor para a construção, manutenção e operação da planta de dessalinização cearense.

Especialista mundial em plantas dedicadas à dessalinização, o grupo GS Inima já executou vários projetos do gênero em diversos países. Na África, foi pioneira a implantar a primeira planta de dessalinização do mundo em 1968, no arquipélago do Cabo Verde. Outras iniciativas importantes realizadas pelo grupo estão na Espanha, Chile e Estados Unidos.

No Brasil, o estudo vencedor da GS Inima considerou, entre outros aspectos, a melhor tecnologia de tratamento, a melhor localização e os menores custos de implantação (CAPEX) e operação.

O método de dessalinização es-colhido foi o de osmose reversa, que consiste em forçar a passagem da água salgada por um sistema de membranas. Estas fibras contêm poros microscópicos, e todo o sal e impurezas presentes na água do mar ficam retidos nestes pequenos poros, tornando a água livre de sais e de impurezas. Outro ponto sensível foi a escolha do local que receberá a planta. Foram considerados fatores como a qualidade da água bruta a ser captada, o lançamento da salmoura resultante do processo de osmose reversa, o fornecimento de energia e a interligação com o sistema existente.

Agora, a Cagece, companhia estadual de saneamento do Ceará, tem a responsabilidade de conduzir as próximas etapas do processo, lançando o edital que definirá a em-presa para executar a construção, manutenção e operação da usina na região metropolitana de Fortaleza.

Estima-se que a usina possa começar a operar em 2020.