Poucas pessoas podem se vangloriar de ter quase 50 anos de carreira no saneamento. César Seara, assessor técnico da ABCON/SINDCON, é um desses profissionais. Começou em 1971, ano em que o Planasa (Plano Nacional de Saneamento) foi formalmente instituído.
Primeira política pública nacional estruturada para o saneamento, o Planasa permitiu um grande desenvolvimento ao setor em abastecimento de água ainda bastante incipiente no esgotamento sanitário. Hoje, o saneamento convive com a expectativa da aprovação da MP 868 para um novo salto.
César acredita que a MP 868 é uma oportunidade para que o saneamento seja novamente alçado à condição de prioridade nacional. “Minha grande preocupação, como brasileiro e técnico do setor, é que os formuladores das políticas públicas consigam entender o que é o saneamento. É a prestação de um serviço público essencial à saúde. Sem saneamento não vamos a lugar nenhum”, ensina ele.
Para César, realismo e otimismo são as chaves para fazer com que o saneamento finalmente beneficie a população. A última tentativa, o último evento significativo do setor, lembra ele, foi a Lei 11.445/07, a Lei do Saneamento. “Na época, achávamos que o novo marco legal resolveria todos os nossos problemas, mas vimos que não resolveu. Passados 12 anos, não tivemos avanços. O que me preocupa, nesse tempo todo, é que lá se vão mais de 50 anos desde a formulação do Planasa e as pessoas que não tinham esgoto tratado continuam sem o serviço. O déficit de cobertura é assustador.
Temos aqui dentro do Brasil uma França, uma Alemanha, sem saneamento. São mais de 100 milhões de brasileiros sem serviço sanitário ambiental. Estamos regredindo no tempo”, lamenta.
César adverte que o Brasil precisa tomar medidas fortes para resgatar o saneamento – e a MP 868 caminha nesse sentido. “Não podemos ficar de mãos cruzadas. É necessário tomar uma posição em favor da universalização dos serviços, para que o futuro desses milhões de brasileiros sem água ou esgoto não esteja comprometido”, finaliza.