Afonso Bazzo: o compliance ganha relevância na gestão financeira

Planejamento. E mais planejamento. Parece uma obviedade, mas essa é a principal recomendação que os especialistas da área financeira que atuam no segmento privado de saneamento indicam a quem trabalha com gestão financeira de concessões de água e esgoto.

“Sabemos das dificuldades na gestão do dia-a-dia. Basta citar o quão difícil é a disciplina para um fluxo de caixa previsível, que restrinja ao mínimo os gastos não-planejados”, explica o diretor da Iguá, Luis Afonso Migliani Bazzo. “O alto custo do financiamento de curto prazo, por si só, já deve acender o sinal amarelo na gestão das despesas. E esse tipo de preocupação não é aplicável apenas aos negócios com receitas reguladas, mas sim a todo modelo de gestão”, completa.

Afonso lembra outro aspecto importante que ganhou ainda maior relevância na gestão financeira nos últimos tempos: o respeito ao compliance. “Precisamos vencer o paradigma que diz que regras, normas e políticas que criem rastreabilidade são entraves à rapidez”, afirma.

Tomando como exemplo novamente a questão do financiamento, Afonso comenta: “Sabemos bem que o acesso a estruturas de capital de longo prazo, com menores custos, está cada vez mais vinculado ao rígido cumprimento dos mais elevados padrões de governança. Esta é uma condição básica de operação de agora em diante, em especial para o segmento de infraestrutura.”

Confira a seguir algumas peculiaridades que comprovam a tese de que a gestão financeira no saneamento é tão ou mais exigente do que a gestão praticada por outros setores.

Trabalhando sob estrita regulação

Concessionárias de saneamento são empresas de serviços públicos. Elas trabalham sob a remuneração de tarifas que, essencialmente, devem ser reguladas. Atuam na condição de monopólio natural, ou seja, são as únicas a prestarem os serviços de água e esgoto em suas respectivas regiões. Dito isso, existe alguma diferença na gestão financeira dessas empresas em relação a outras que atuam em segmentos onde há intensa competição de preços?

Para o consultor Paulo de Souza Soares de Almeida, sócio da Azee Consultoria, a resposta é não. “A dependência da regulação não significa que a gestão financeira das empresas de saneamento seja mais ou menos complicada. A regulação pelo mercado é, muitas vezes, tão ou mais severa do que a regulação por organismos reguladores ou pelo titular dos serviços. O que devemos observar é que, no caso das concessionárias, existem algumas especificidades importantes, o que faz com que a atenção do gestor financeiro esteja voltada para particularidades que assumem maior relevância nesse tipo de operação”, explica.

O primeiro item destacado por Paulo é o comportamento da receita. O sinal de alerta será acionado caso estas diminuam de modo consistente. Entre os fatores que podem afetar o equilíbrio econômico e financeiro das concessionárias estão a inadimplência dos usuários e o custo da energia.

O gestor de finanças precisa ter uma visão ampla e saber se relacionar e trabalhar junto com outros setores da empresa.

O incremento no faturamento já é algo mais complicado, pois ao contrário de concessionárias de telefonia, por exemplo, a busca por receitas adicionais advindas de serviços agregados é bastante limitada. De qualquer maneira, conforme assinala Paulo, o contrato, desde que bem estruturado, seguindo estudos de viabilidade econômica, traz segurança financeira à operação.

Paulo: “tudo se reflete no financeiro”

Reduzir perdas físicas e comerciais de água e, consequentemente, garantir a arrecadação, é um caminho natural da atividade das concessionárias privadas. “A gestão das empresas de saneamento deve dedicar especial atenção ao combate não só às perdas, mas também às fugas dos sistemas que afetam diretamente o desempenho financeiro da operação”, acrescenta Paulo, que também é membro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF/SP).

Outra medida corriqueira da gestão financeira é controlar custos e despesas, procurando ser mais eficiente nessa relação. “Se possível, a concessionária deve almejar ir além dos padrões de eficiência exigidos pelo contrato”, avalia o consultor. Para tanto, é necessário recorrer a um suporte tecnológico apropriado, manter uma equipe de compras afiada ou mesmo contar com a terceirização em atividades não-diretamente relacionadas à atividade-fim.

O “chato” da turma?

Não tem jeito. É de responsabilidade da área financeira estar sempre atento à eficiência da empresa em relação a custos e despesas, e “cutucar” – no bom sentido – outros departamentos para que a organização alcance um desempenho financeiro positivo.

“Tudo se reflete no Financeiro”, defende Paulo Almeida. Ele lembra que o gestor de finanças precisa ter uma visão ampla e saber se relacionar e trabalhar junto com outros setores da empresa. “Uma organização moderna não pode ter feudos. O Financeiro deve atuar perfeitamente alinhado com essa visão, participando ativamente das decisões, mesmo não sendo o executor das ações. Nosso papel é estar permanentemente atentos às oportunidades que surgem para que a empresa tenha um melhor desempenho financeiro”, completa.