Sem investir na universalização dos serviços de saneamento, a população sofre e o país perde muitos recursos
Está à disposição de todos o relatório sobre o estudo “Benefícios Econômicos e Sociais da Expansão do Saneamento Brasileiro 2018”, a mais recente pesquisa realizada pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a ABCON. O trabalho, elaborado pela consultoria Ex Ante, mostra que a expansão dos serviços de água e esgotos no país traz muito mais do que apenas qualidade de vida. Os investimentos feitos e o maior acesso das pessoas proporcionam ganhos econômicos e sociais concretos, especialmente nos setores da saúde, educação, produtividade, turismo e valorização imobiliária. Aqui, apresentamos os principais recortes da pesquisa para os leitores da revista CANAL Sindcon.
Como resultado geral, o custo médio para se levar água e esgoto até a população é estimado em R$ 443,5 bilhões em 20 anos, ou seja, cerca de R$ 22,2 bilhões ao ano (o valor presente dos investimentos corresponde a R$ 241,3 bilhões).
Segundo o estudo, a universalização do saneamento traria ganhos expressivos para a sociedade. Em duas décadas, os ganhos econômicos e sociais gerados pela ampliação dos serviços em diversas áreas alcançariam R$1,12 trilhão.
LONGEVIDADE
A situação precária no setor reflete até na longevidade da população. Em 2015, a expectativa de vida no Brasil era de 74,4 anos, menor que a média da América Latina (74,9 anos). O Brasil fica atrás do Uruguai (77 anos), da Argentina (76,2 anos) e do Chile (81,5 anos).
ESCOLARIDADE E TRABALHO
A ausência de saneamento básico traz reflexos na produtividade e escolaridade do trabalhador. Os números demonstram que a parte da população que não tem acesso recebe 52,4% a menos que os que possuem acesso ao saneamento.
Além dos desafios da produtividade no ambiente de trabalho, existem os desafios com o atraso escolar. A escolaridade influencia de maneira positiva a produtividade e a renda dos trabalhadores. Menor escolaridade implica perda de produtividade e de remuneração.
Se um estudante que hoje não desfruta dos serviços tiver a oportunidade de obter os serviços sanitários (coleta de esgoto e água tratada), espera-se uma redução de 3,6% em seu atraso escolar.
Entre 2016 e 2036 o relatório aponta efeitos sobre a produtividade do trabalho. A partir da aplicação dos recursos necessários, espera-se um ganho de renda de R$ 190,3 bilhões, equivalente a um ganho anual de R$ 9,5 bilhões, e somente com esse retorno os governos teriam uma fonte expressiva para expandir os serviços de água e esgoto.
VALORIZAÇÃO IMOBILIARIA
Tendo como base dados do IBGE 2017, o estudo detecta um impacto expressivo do saneamento sobre o valor dos ativos imobiliários e sobre a renda gerada pelo setor. Observando dois imóveis localizados em bairros similares, diferenciados apenas pelo acesso ao saneamento, a diferença de valor é de 16,4% acima para aquele que tem acesso ao serviço.
Um cálculo apresentado na pesquisa mostra que a adequação do saneamento básico pode aumentar o valor de um imóvel em 33%. No caso da água tratada, o valor entre dois imóveis, com e sem acesso, se diferencia em 9,0% em média. Na ausência de banheiro a diferença é de 7,4%.
O valor esperado para valorização imobiliária entre 2016 e 2036 com a expansão dos serviços de saneamento é de R$ 22,3 bilhões por ano no Brasil.
TURISMO
Uma atividade econômica que, sem saneamento, tem seu desenvolvimento afetado, ou até mesmo anulado, em regiões que não possuem coleta e tratamento de esgoto e água tratada.
Se compararmos outros países da América Latina com o Brasil, as economias com melhor desempenho na área do saneamento possuem maiores fluxos internacionais. Em Cuba, Chile e Argentina o número foi de 261, 207 e 138 turistas estrangeiros por mil habitantes em 2014. No Brasil, foram apenas 31 turistas por mil habitantes, no ano em que o país sediou a Copa do Mundo de Futebol.
No período de 2016 a 2036 espera-se que os ganhos de renda do turismo no Brasil devidos à universalização do saneamento passem de R$ 2,1 bilhões por ano para R$ 42,8 bilhões.