A chamada Internet das Coisas – ou IoT na sigla em inglês, como também é conhecida – pode ser entendida como uma rede de dispositivos físicos conectados, capazes de transmitirem dados e de se comunicar entre si.

Esses dispositivos não se limitam àqueles mais facilmente associados ao uso da internet, como os smartphones, mas também podem incluir câmeras de segurança, alarmes de incêndio, sistemas de ar-condicionado e outros aparelhos dotados de sensores capazes de registrar e transmitir dados.

Numa casa, a aplicação da IoT poderia se estender, por exemplo, a uma geladeira, que, graças ao histórico de dados acumulado, seria capaz de “avisar” a família de que chegou a hora de fazer as compras do mês. O eletrodoméstico iria até mais além, pesquisando na internet onde estão as melhores ofertas para abastecer os itens que os donos da geladeira precisam comprar.

A tecnologia 5G, último avanço na transmissão massiva de dados por meio de redes móveis, é um marco para o uso da IoT. Mas as redes de comunicação da IoT podem também usar o bluetooth, o NFC (que requer a aproximação de dois dispositivos e é empregado em meios de pagamento, por exemplo), entre outras alternativas de comunicação sem fio.

No saneamento, a IoT está cada vez mais presente. Segundo o gerente executivo de TI da BRK Ambiental, Vander dos Santos Dias, os temas transformação digital e Internet das Coisas têm ganhado cada vez importância nas agendas dos executivos da empresa. “As principais alavancas para investimentos em IoT ainda são os benefícios operacionais e financeiros que essa tecnologia é capaz de trazer aos negócios”, afirma.

Ele assinala que a tecnologia tem proporcionado uma série de benefícios para as operações das concessionárias do grupo, tais como a melhoria no serviço de distribuição de Água, transparência e controle do serviço, redução no número de reclamações de usuários e, consequentemente, a melhoria na relação com os clientes.

No grupo Aegea, a utilização de sensores para transmissão de dados foi adotada há quase uma década, de acordo com o coordenador de inovação da companhia, Klaus Paz. “A primeira aplicação foi na verificação dos níveis de pressão. Com o passar do tempo, fomos incorporando novas possibilidades. Avançamos nessa linha de monitoramento e também passamos a utilizar os sensores para a área de controle, na qual é importante tanto receber quando enviar informações”, destaca ele.

Moisés Menezes Salvano, da área de engenharia de operações da Aegea, ressalta esses dois desafios característicos da IoT: de um lado, os sensores e a infraestrutura de armazenamento para uma elevada quantidade de informações; de outro, a transmissão em si desses dados. “Todos os dados precisam estar armazenados e disponíveis. Isso exige uma infraestrutura que demanda esforços constantes de aperfeiçoamento”, completa ele.

Alguns dos reflexos positivos do uso do IoT nas operações de saneamento podem ser percebidos na ponta da concessionária. O SAC, serviço de atendimento ao cliente, utiliza os dados por exemplo para verificar se o fornecimento está regular, e assim dar uma resposta rápida ao usuário sobre a disponibilidade de água, contribuindo para a qualidade na prestação do serviço.

“Quando cruzamos as informações, é possível extrair verificações importantes, como por exemplo locais onde há recorrência de pressões elevadas e, portanto, mais ordens de serviço por reparos de vazamentos”, atesta Moisés. “É assim uma ferramenta muito valiosa de diagnóstico e direcionamento de ações. A cada nova concessão, os dados acumulados passam a fazer parte de um histórico que alimenta a melhoria das operações do grupo”, completa.

Vander, da BRK, acrescenta que ainda há alguns desafios a superar para que toda a potência da IoT no saneamento seja capitalizada: explorar as tecnologias disponíveis, contornar a falta de serviços de conectividade em áreas de baixa densidade populacional e gerenciar a pulverização de fornecedores e a baixa maturidade na prestação de serviços. “A incorporação de nova tecnologia com os sistemas legados, a dificuldade para criar plataformas de integração e de interoperabilidade entre diversas tecnologias, players e aplicações também podem ser citadas entre esses desafios”, afirma ele.

Na sua opinião, a indústria global de IoT está crescendo exponencialmente e em efervescência, com inúmeros competidores propondo diversos modelos de negócios e tecnologias. “Essa é uma característica de indústrias nascentes. A expectativa é que esse processo de estruturação amadureça ao longo do tempo, a partir do maior volume de soluções disponíveis para as empresas”, finaliza.