O perfil do brasileiro sem acesso à rede de coleta de esgoto é de quem sobrevive com menos de um salário-mínimo, vive nos estados das regiões Norte e Nordeste, tem no máximo o ensino fundamental completo e é de raça preta, parda ou indígena (PPI). Para especialistas, a falta de infraestrutura básica contribui para perpetuar a desigualdade social no país.

Os dados são referentes a 2022 e compilados pela ABCON (Associação das Concessionárias Privadas de Água e Esgoto), compilados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Na média, 32,2% dos brasileiros não têm acesso à rede de esgoto. No entanto, o percentual salta para 74% das pessoas recebem até um salário-mínimo ao mês. Quanto às regiões, 70% da população da região Norte e 59% do Nordeste não contam com o serviço de tratamento básico. Em comparação, apenas 11% dos habitantes do Sudeste, a região mais rica do país, vivem sem rede de esgoto.

O índice da meta estipulada na Lei 11.445/2007, atualizada pela Lei 14.020/2020, prevê que 90% dos brasileiros tenham coleta e esgoto tratado em 2033 e que 99% tenha abastecimento de água de qualidade. Porém, a discrepância continua em recortes de raça e educação. Enquanto 76% dos brasileiros com até o ensino fundamental completo não têm acesso a esgoto tratado, o índice dos que estão na mesma situação é de 7,7% das pessoas com ensino superior. Da mesma forma, 75,9% dos que se autodeclaram de raça branca contam com o serviço em suas residências, índice que cai para 61,4% da população.

Para o presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente), Ricardo Lazzari Mendes, o desenvolvimento socioeconômico está diretamente ligado ao acesso à infraestrutura básica. Isso porque a falta de saneamento provoca exposição do público desassistido a doenças, o que prejudica o rendimento escolar, a produtividade no trabalho e a qualidade de vida. Para Mendes, a solução é uma parceria entre serviço público e iniciativa privada. “De modo amplo, temos a necessidade de empresas públicas com serviços municipais eficientes e da atuação de empresas privadas, para que a população realmente alcance números mais expressivos de qualidade de vida”, diz.