Leiria: aberto ao entendimento com as companhias privadas.
Conversamos com Carlos Leiria Pinto, gerente-geral no Brasil da IFC (International Finance Corporation), braço de investimentos do Banco Mundial no setor privado.
Acompanhe a conversa e confira a expectativa desse importante órgão de financiamento do saneamento para os próximos anos.
RC – Qual a expectativa da IFC sobre a evolução dos investimentos em saneamento no Brasil para os próximos anos?
CLP – Nossa perspectiva é que, com a nova legislação do saneamento, os investimentos no setor de água e saneamento tenham um grande impulso. Vai haver um volume significativo de investimento nos próximos dez anos. Do lado da IFC, na medida em que nós definimos o setor de Water&Sanitation como prioridade número um no Brasil, vamos alocar uma parte significativa de nossos investimentos nesse setor. Vamos buscar investir uma média entre US$ 300 milhões e US$ 500 milhões por ano, para os próximos cinco anos.
RC – Porque esse setor é prioridade na carteira da IFC no Brasil?
CLP – Claramente esse é um dos índices de desenvolvimento humano pelos quais os países são avaliados: a proporção de acesso da população aos serviços de água e saneamento. Quando comparamos essa proporção do Brasil com países com PIB per capita semelhante, vemos que o Brasil está atrás. É um indicador que reúne três aspectos: a qualidade de vida humana, a saúde da população e o cuidado com o meio ambiente. E isso, consequentemente, tem tudo a ver com o que a IFC – uma instituição de desenvolvimento voltada para o setor privado nos mercados emergentes, faz no Brasil e nos países onde opera. Vemos que o Brasil precisa de grandes investimentos para melhorar a proporção da oferta desses serviços.
RC – Vocês já participam ou pretendem participar de algum projeto em curso?
CLP – Fizemos duas operações importantes no ano fiscal de 2021. A primeira foi um financiamento de US$ 100 milhões para ajudar a despoluir o Rio Pinheiros, em São Paulo. A segunda operação foi com a Corsan, com estudos de água não-faturada e um financiamento – tranche inicial de R$ 300 milhões – para reduzir as perdas de água e impulsionar a eficiência energética em suas operações. E agora estamos avaliando as concessões leiloadas e que irão necessitar de financiamento de longo prazo. Nosso interesse não está no bridge loans (financiamento ponte, de curto prazo), mas sim nos empréstimos de longo prazo, como as operações leiloadas da Cedae.
RC – Qual a carteira da instituição para o saneamento no Brasil?
CLP – Adicionalmente aos dois projetos que assinamos no primeiro semestre de 2021, temos algumas conversas com empresas privadas do setor. Estamos co-financiando estudos de pré-viabilidade para avaliação de projetos de plantas de reúso junto a alguns clientes, projeto que exige inovação institucional, de modelo de negócio e de financiamento. Também temos conversado com empresas do setor focando em parcerias na elaboração de diagnósticos para identificação de prioridades e planos de ação para mitigação dos impactos climáticos, assim como no fornecimento de assistência técnica utilizando o know-how global da IFC, para buscar novos modelos de negócios, de contratação e de financiamento.
RC – Como as empresas privadas do setor podem acessar a IFC?
CLP – Basta entrar em contato comigo, e nossa equipe especializada em infraestrutura está à disposição para conversar com as empresas interessadas.
Saiba mais
Segundo informações da B3, os Sustainability linked bonds (SLB) são instrumentos de dívida que tem como objetivo final fazer com que o emissor alcance metas ESG, calibradas a partir de indicadores-chave de desempenho (KPIs). Esses títulos poderão ter suas características financeiras e estruturais alteradas, dependendo do atingimento ou não das metas de sustentabilidade pré-estabelecidas.
Ou seja, eles estão vinculados ao atingimento de metas por parte das operadoras, sendo, portanto, títulos muito apropriados para o momento atual do Brasil, em que surgem cada vez mais investimentos em saneamento com vistas à universalização dos serviços de água e esgoto.