As soluções tecnológicas para controlar perdas de água estão entre as vantagens que as empresas da iniciativa privada podem agregar ao setor de saneamento no País. No Brasil, os investimentos privados em tecnologia têm gerado resultados cada vez melhores para o controle de perdas.
Já existem, por exemplo, soluções que integram sensores e softwares para auxiliar o gerenciamento de água em tempo real. Peter Cheung, doutor em Hidráulica e Saneamento, confirma que essas soluções auxiliam na detecção de possíveis vazamentos em tubulações, identificam anomalias e melhoram a eficiência operacional, “evitando as perdas na distribuição de água para as cidades”, acrescenta.
Coautor do livro “Perdas de Água: Tecnologias de Controle”, Cheung esclarece sobre o funcionamento dessas soluções. Elas se comunicam, via rádio e/ou celular, com um servidor central nas nuvens (“cloud”), que trata as informações coletadas através de técnicas avançadas de Big Data. “Por meio de um software web, é possível analisar, em qualquer lugar do mundo e a qualquer hora, as informações e realizar análises detalhadas”, diz ele.
Segundo Cheung, que conduziu em Campo Grande um dos cursos de capacitação do SINDCON, exatamente sobre o tema das perdas, pode- -se obter, com uma boa tecnologia de monitoramento (desde que associada às boas práticas de gestão), uma diminuição das perdas de água em até 20 pontos percentuais.
“Antes de pensar em aumentar a oferta de água, temos primeiro que entender como garantir mais eficiência”.
Isso ganha ainda mais significado à medida que o Brasil ainda não tem a gestão da escassez como política pública para criar campanhas que incentivem a redução do consumo, do reuso na indústria, da troca de tipo de irrigação, por exemplo. “Uma das questões importantes é fazer uso racional da água”, diz a professora Monica Porto, do departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da USP. E nisso a tecnologia é fundamental, pois sem ela fica quase impossível reduzir o consumo e otimizar o uso da água da melhor maneira possível.
Para Monica, a presença do setor privado não apenas traz mais investimentos, inclusive em tecnologias, mas também pessoas novas no setor. “Agrega-se ideias, ‘ar fresco’ ao setor”, completa. “E isso é essencial para o modelo de gestão extremamente positivo.”
Mitos sobre as perdas
“Perda não é um problema operacional e sim um problema de gestão. O combate às perdas precisa estar associado a um plano estratégico-tático do prestador, e levar em consideração a sustentabilidade economico-financeira, o meio ambiente e a qualidade do serviço prestado aos usuários (p. ex. garantir a continuidade do abastecimento). Muitos investimentos no combate às perdas falham por não estarem alinhados a um planejamento estratégico da organização. Todos os setores devem se envolver. Além disso, a falta de informação sobre os sistemas brasileiros compromete muito a execução dessas ações. Operacionalmente falando, observa-se que onde ocorrem os maiores problemas, rede de distribuição de água, são as áreas menos assistidas pelos prestadores. Faltam sensores nas redes de distribuição de água para um gerenciamento efetivo. Sem sensores nas redes, é como pilotar um avião sem o painel de controle”. Peter Cheung Doutor em Hidráulica e Saneamento