Novidades no tratamento de esgoto e outras áreas já estão sendo adotadas pelas concessionárias privadas

O Brasil tem grandes demandas de saneamento básico e pode avançar com a aprovação do novo marco legal do setor, em Brasília. Uma das áreas que certamente serão beneficiadas – e contribuirão para o país alcançar a universalização dos serviços de água e esgoto – é a tecnologia. Concessionárias privadas já estão trabalhando com tecnologias inovadoras em suas operações e deverão ampliar investimentos na área nos próximos anos.

Diretor de Tecnologia e Qualidade do SINDCON, André Lermontov identifica uma grande oportunidade para o Brasil avançar nos próximos anos. Um campo em que há muitas novidades é a construção e operação de estações de tratamento de esgoto. “As novas ETEs estão cada vez mais compactas e chegam a ocupar apenas 25% da área construída de projetos tradicionais”, explica o Diretor do SINDCON.

É o caso da ETE Camboinhas, da concessionária Águas de Niterói (grupo Águas do Brasil), que foi modernizada e adotou um sistema que aumenta substancialmente a capacidade de tratamento – de 115 litros para 295 litros por segundo – com uma reduzida ampliação de área física. A otimização é obtida graças à tecnologia de biomídias esponjosas, uma inovação nacional inédita, desenvolvida na USP São Carlos.

As biomídias possuem maior área de adesão e captam e concentram mais bactérias por metro cúbico, o que proporciona aumento de vazão e carga. A tecnologia pode, inclusive, ser adaptada a infraestruturas antigas, em projetos de modernização. “Com essa flexibilidade e capacidade de expansão no tratamento, não é necessário construir novas ETEs”, acrescenta Lermontov.

Ele cita como outro exemplo as elevatórias plug and play (pré-fabricadas), que fogem do modelo tradicional, e são a solução para os transtornos de obras demoradas, ao facilitar a instalação. “As elevatórias atuais também empregam tecnologias novas, funcionam como piscinões que favorecem a eliminação de sujeira e o acúmulo de resíduos”, comenta. Assim como as biomídias, a moderna tecnologia de elevatórias tem a flexibilidade de serem acopladas a tecnologias tradicionais.

Ainda entre as novidades no tratamento de esgoto, merece registro a tecnologia norueguesa de fluxo contínuo (em inglês, CFIC – Continuous Flow Intermittent Cleaning), adotada pela ETE Benedito Bentes, em Maceió, pela concessionária Sanama.

Nessa tecnologia, os microrganismos do biofilme fixado na superfície dos suportes utilizam-se dos poluentes presentes no esgoto como alimentos para crescer. Por meio do fluxo contínuo para o biorreator, a limpeza intermitente usa o próprio afluente para remover o excesso da biomassa dos suportes de biofilme.

“Pioneira no Brasil, a tecnologia utilizada na ETE Benedito Bentes permite uma operação mais sustentável,” diz Paulo Roberto Oliveira, Presidente da GS Inima Brasil, que controla a Sanama. “Além de reduzir o consumo de energia elétrica em 30%, ocupa menor área de instalação se comparada com uma estação convencional. Também produz efluentes de ótima qualidade, que estão sendo reutilizados dentro do próprio processo de tratamento”, acrescenta.

Outra área que evolui bastante e traz ganhos significativos para a operação das concessionárias são os softwares e automatizações. Os sistemas de tratamento contam com cada vez mais painéis inteligentes, medidores e sensores, que, entre outras vantagens, também evitam erros causados pelo fator humano.

“Por meio de softwares, temos controle de todas as variáveis do sistema. É uma tecnologia em alta e que depende de mão de obra qualificada”, avalia Carlos Roberto Ferreira, do Conselho-Diretor do SINDCON e Diretor-Presidente da Sesamm – Serviços de Saneamento de Mogi Mirim.

André Lermontov acredita que o mercado focado em tecnologia deverá se expandir ainda mais com a entrada de novos fornecedores, na esteira da aprovação do novo marco legal do saneamento. “Empresas estrangeiras começam a olhar com muita atenção o Brasil, afinal temos aqui um enorme gap de tratamento de esgoto, provavelmente o maior do mundo”, destaca ele.

O Diretor do SINDCON lembra ainda que mesmo em relação à água há grandes demandas tecnológicas, diante da escassez hídrica, secas e o combate aos agrotóxicos. “Também vejo crescimento a médio e longo prazo desse mercado, bem como avanços em tecnologias como a dessalinização e o reúso, que estão cada vez mais presentes”, completa.