Concessionárias reparam sistemas da Cedae, com foco inicial em distribuição de água e despoluição

 

Um ano depois do primeiro leilão de concessão dos serviços da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) – o maior do país, com arrecadação de R$ 22,6 bilhões em outorgas -, as duas empresas vencedoras, dos grupos Aegea e Iguá, afirmam ter investido cerca de R$ 250 milhões. O foco é melhorar e reparar a rede deixada pela Cedae, sobretudo na distribuição de água.

As companhias também buscam ampliar a base de clientes em áreas carentes por meio da tarifa social e se preparam para iniciar intervenções mais estruturais na coleta e tratamento de esgoto. A obrigação contratual de alcançar 90% de cobertura nessa frente até 2033 é apontada pelos executivos como o maior desafio do negócio.

As empresas planejam construir tubulações separadoras, conectadas à casa dos usuários, mas, antes, introduzir os chamados coletores de tempo seco. Essa “tubulação-cinturão”, que desvia o esgoto às estações de tratamento, é encarada como a solução a curto e médio prazos para a despoluição dos corpos hídricos que deságuam nos rios, lagoas e baías do Estado, e cuja recuperação é estratégica nas políticas ESG de Aegea e Iguá.

O presidente da Águas do Rio (Aegea), Alexandre Bianchini, diz que a empresa investiu R$ 217 milhões nos dois blocos que arrematou no fim de 2021, mas só assumiu plenamente em novembro, há seis meses. É apenas uma fração dos R$ 24,4 bilhões previstos nos 35 anos da concessão, mas com “bom potencial de impacto”, defende.

O montante serviu à recuperação de estruturas e introdução de tecnologia, como mapeamento digital de pressão da rede em 124 bairros da capital e 26 municípios do interior e da região metropolitana, como os populosos Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São Gonçalo, com baixas coberturas de esgoto, por vezes abaixo de 30%.

“Temos informação em tempo real de mais de mil pontos de pressão [da tubulação].” A novidade, diz Bianchini, permitiu inaugurar o que chama de “ciclo de 100”, uma centena de obras concomitantes originadas pelos alertas no painel e reclamações, que envolvem reparos como desentupimentos e instalação de novas bombas. “De cara o foco está na distribuição de água, que a população sente mais. Em seguida virá o esgoto”, continua.

A cobertura de água nas áreas da Águas do Rio está em 89% e tem de chegar a 99% em 12 anos. Mas entre 25% e 30% dos usuários contemplados têm problemas de intermitência. A concessionária deve mirar estruturas como as 12 grandes estações de tratamento de esgoto inauguradas nos anos 1990 e hoje subutilizadas. “Há estações com capacidade para tratar 1,5 mil litros de esgoto por segundo processando abaixo de 300 litros.” O ajuste no volume tratado, diz, vai aliviar a baía de Guanabara, definida como “joia da concessão”.

A empresa só não controla o saneamento em dois dos 17 municípios que vertem águas para o cartão-postal, levando junto 18 mil litros de esgoto a cada segundo. Solução mais definitiva, o projeto do coletor de tempo seco já foi apresentado à reguladora estadual (Agenersa), e pode ter a construção iniciada ainda esse ano, consumindo R$ 2,7 bilhões até 2026.

Pela Iguá, que assumiu o sistema há três meses, após operação assistida pela Cedae, o presidente da holding, Carlos Brandão, afirma que foram dispensados perto de R$ 30 milhões em melhorias. O montante deve bater os R$ 200 milhões neste ano. A empresa atua em parte da zona oeste da capital e duas cidades do centro-sul do Estado. Em 35 anos, o plano é investir de R$ 3 bilhões.

Brandão diz haver 58 elevatórias de esgoto deterioradas, o que leva a subutilização de estações. A principal delas, da Barra da Tijuca, trata menos de um terço do que é capaz, 2,5 mil litros por segundo. “Vamos abrir um painel on-line para o acompanhamento dos reparos pela população. Temos 50% das obras civis prontas e vamos começar a parte mecânica e elétrica”, diz. Os reparos devem consumir R$ 60 milhões e auxiliar na despoluição do complexo lagunar de Jacarepaguá.

As lagoas da região cortam a área de concessão e recebem esgoto “in natura” de mais de cem comunidades. Ali também se quer construir coletoras de tempo seco entre três e cinco anos a um custo estimado de R$ 126 milhões. A Iguá aguarda licenciamento ambiental para iniciar o trabalho. A ampliação da rede separadora em áreas de ocupação irregular está orçada em R$ 305 milhões em dez anos. A empresa atua na despoluição do complexo, com coleta de lixo sólido e um projeto de dragagem de 2 milhões de metros cúbicos de lodo a fim de expandir o espelho d’água e permitir mais troca de águas.

O secretário da Casa Civil do governo do Estado, Nicola Miccione, disse que as concessões estão na fase inicial e que o grosso do investimento ainda será realizado. Segundo ele, mais de 100 mil casas passaram a ter acesso a água desde novembro, quando a primeira concessionária assumiu a operação. Afirmou que há também ganhos na geração de empregos. A Cedae tinha cerca de 5 mil funcionários, hoje são 4 mil. As duas concessionárias contrataram mais de 7 mil.

 

Fonte: Valor Econômico