Rogério Tavares fez um balanço de sua gestão à frente do Conselho de Administração em 2025 e uma análise de como foi o ano para o setor de saneamento. Nesta entrevista, ele destaca os principais avanços do setor, fala sobre os leilões e sobre as expectativas para 2026.

1. Como foi 2025 para o setor de saneamento? Para o senhor, quais foram os destaques do ano?

Foi um período marcado por avanços significativos na agenda de universalização e dimensionamento da importância e urgência do tema saneamento básico no Brasil. Leilões importantes ocorreram, com destaque para a concessão dos blocos de municípios do Pará, que representam o maior investimento já realizado na Amazônia Legal. Também foi um período de amadurecimento institucional: na ABCON foi realizada a modernização do Estatuto, visando acompanhar o constante amadurecimento do setor de saneamento, também tivemos o aprimoramento da governança e a ampliação da base dos associados. O setor ainda ampliou sua presença em fóruns de discussão sobre meio ambiente, infraestrutura e inclusão social, especialmente com a aproximação da COP30.

2. Olhando pelo retrovisor, quais foram os maiores desafios e as maiores vitórias do ano?

Entre os principais desafios, estão os eventos climáticos extremos e a manutenção da qualidade dos serviços em contextos adversos. A resposta rápida e coordenada diante de situações críticas demonstrou a resiliência e a capacidade de mobilização do setor. Como vitórias, é possível destacar a antecipação de metas contratuais, a ampliação da cobertura de água e esgoto em áreas vulneráveis e a modernização dos instrumentos de gestão setorial, tanto operacionais quanto institucionais. Além disso, é perceptível, cada vez mais, a consolidação de discussões entre diferentes representantes da sociedade. O saneamento vem deixando de ser apenas uma pauta de infraestrutura, mas também um aspecto de saúde pública e desenvolvimento socioeconômico.

3. 2025 foi um ano de leilões importantes. O setor vai continuar em ritmo acelerado ano que vem? O que podemos esperar para 2026?

Sim, a expectativa para 2026 é de continuidade e até intensificação no ritmo de novos leilões no setor de saneamento. Estados e municípios devem colocar em disputa dezenas de projetos estruturados, em diferentes modelos de concessão, com previsão de investimentos relevantes ao longo dos contratos. Há um movimento concreto de maturação de projetos que foram estruturados nos últimos anos e que devem ser licitados no próximo ciclo.
Além dos blocos já conhecidos em grandes regiões urbanas, novas oportunidades estão surgindo em áreas com cobertura ainda reduzida de esgotamento sanitário, especialmente no Norte e Nordeste. Esses projetos trazem desafios técnicos importantes, mas também grande potencial de impacto social e ambiental positivo.
Ao mesmo tempo, será um ano em que a implementação de contratos recentes deve ganhar escala. Isso inclui a mobilização de investimentos, execução de obras estruturantes e fortalecimento da regulação local. O setor entra em uma nova fase, mais exigente, que testará a capacidade de execução dos operadores e a solidez dos modelos adotados.
2026 tende a ser, portanto, um ano de consolidação e expansão: novos contratos em disputa e contratos recém-assinados entrando em fase de entrega efetiva. O foco deve permanecer em alcançar a universalização com eficiência, escala e inclusão.

4. Como presidente do Conselho de Administração da ABCON, o senhor participou de diversos eventos, painéis, debates e encontros pela associação ao longo do ano. Para o senhor, quais foram os melhores momentos? E quais são aqueles que podem ter representado uma virada de chave para o setor?

O ano de 2025 foi especialmente relevante para o fortalecimento institucional do setor. Um dos momentos mais significativos foi a aprovação do novo Estatuto da ABCON, fruto de um processo de revisão conduzido com amplo diálogo e participação ativa do Conselho. Isso se reflete no reposicionamento institucional: agora a entidade passa a se chamar Associação Brasileira das Empresas de Saneamento (ABCON).
A atualização do Estatuto foi estratégica para ampliar a representatividade da associação, permitindo a inclusão de diferentes e relevantes modelos de operadores, como companhias estaduais, e abrindo caminho para uma atuação mais plural, técnica e integrada. Aprimoramos ainda a nossa governança visando o fortalecimento do Conselho de Administração e maior agilidade e assertividade nos processos deliberativos estratégicos.
Outro ponto alto do ano foi a entrada de importantes operadoras no quadro associativo, como a SABESP, além do avanço no diálogo com a COPASA. Esse movimento representa um marco na construção de pontes entre diferentes atores do setor, superando antagonismos históricos e priorizando a colaboração em torno de objetivos comuns, como a universalização dos serviços e o fortalecimento da regulação.
Além disso, a presença ativa da ABCON em eventos relevantes, como fóruns regulatórios, encontros com reguladores estaduais, debates sobre financiamento e discussões internacionais, contribuiu para posicionar o setor de saneamento como parte central das soluções para os desafios de infraestrutura e desenvolvimento social do país. A participação do setor em agendas como a COP30, com destaque para temas como economia circular, água de reúso e justiça climática, reforçou o papel estratégico do saneamento nas discussões centrais de adaptação e resiliência.
Esses marcos indicam uma virada de chave institucional, na qual o setor se organiza com mais maturidade, capacidade de articulação e visão de longo prazo. O fortalecimento da governança setorial, com diálogo entre operadores públicos e privados, reguladores, governos e sociedade civil, é fundamental para garantir avanços consistentes e sustentáveis.

5. Podemos esperar um 2026 mais promissor para o setor do que foi 2025? Estamos no caminho certo da universalização do setor?

Sim. O setor está avançando com consistência rumo às metas de universalização. Os projetos já contratados, os recursos mobilizados e o ambiente regulatório consolidado criam as condições para acelerar a entrega de serviços essenciais à população. Há um esforço cada vez mais claro para priorizar regiões vulneráveis, reduzir desigualdades e ampliar o impacto social positivo do saneamento. A agenda para 2026 inclui investimentos estruturantes, expansão de redes e adoção de novas tecnologias.
Além disso, há uma expectativa concreta de que o próximo ano marque a última grande onda de concessões estruturadas no setor. Diversos estados e municípios estão organizando leilões com foco em áreas que ainda apresentam baixos índices de cobertura, especialmente no Norte e no Nordeste. Juntos, esses projetos podem somar dezenas de bilhões de reais em novos investimentos, ampliando o alcance da infraestrutura de saneamento em larga escala.
Esse novo ciclo de concessões não apenas amplia a cobertura, mas também pressiona por maior eficiência e impacto social. É uma oportunidade para que o setor avance de forma coordenada, integrando metas contratuais ambiciosas com soluções operacionais adaptadas à realidade de cada território. A expectativa é que 2026 seja um ano de consolidação da agenda de universalização como prioridade de política pública e foco de investimentos estruturados em todo o país.

6. O senhor encerra seu mandato na ABCON no fim do ano deixando um grande legado. Às vésperas do aniversário de 30 anos da ABCON, o senhor conseguiu apoio do Conselho para aprovar um novo Estatuto para a associação. Por que é importante falarmos sobre o novo Estatuto? Quais foram os pontos altos da sua gestão na presidência? 

A revisão do Estatuto é simbólica e estratégica, pois alinha a associação ao novo momento do setor. Ela permite ampliar a base associativa, moderniza a governança e fortalece a interlocução com o poder público, reguladores e a sociedade. Entre os pontos altos da gestão, destaca-se a ampliação do protagonismo institucional da associação, a integração de operadores públicos e privados em torno de objetivos comuns e a consolidação da entidade como referência técnica e política no debate sobre saneamento no Brasil.