Nesta entrevista, a diretora-presidente da ABCON, Christianne Dias, faz um balanço de como foi 2025 para o setor de saneamento e destaca as conquistas, desafios e expectativas para 2026.
1. 2025 foi um ano de grandes leilões em diversos setores de infraestrutura, inclusive no setor de saneamento. Vamos encerrar o ano com o esperado leilão de Pernambuco. Qual é a expectativa da ABCON para esse leilão? E quais são as expectativas do setor para o ano que vem?
Os leilões de saneamento ganham relevância justamente porque marcam uma fase de consolidação dos grandes grupos privados do setor, ao mesmo tempo em que desenham o ciclo de investimentos que precisa ser entregue até 2033. O leilão da Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento) será um divisor de águas para o estado. Os governadores do Nordeste têm demonstrado um compromisso firme com a universalização do serviço. O setor vem avançando muito nos últimos anos em todas regiões. Há um forte interesse de grupos nesses leilões porque os investimentos vão garantir resultados extremamente positivos e promover uma transformação na vida de todos.
O cenário de 2026 tende a ser de competição acirrada entre players de grande capacidade financeira e técnica, pressionando a qualidade da modelagem e a eficiência na execução dos contratos.
A expectativa para 2026 é que empresas do porte das nossas associadas se firmem como protagonistas dos próximos certames, mesmo em ambiente de alta alavancagem, o que reforça o caráter seletivo dos projetos e a importância de estruturas contratuais maduras. Esse movimento se soma à tendência de entrada de novos grupos de infraestrutura e fundos de investimento no saneamento, favorecendo fusões, aquisições e reconfiguração de portfólios à medida que o pipeline de grandes leilões se esgota e dá lugar a projetos menores, mais pulverizados, porém decisivos para cumprir as metas de universalização.
2. Para além dos leilões, para além dos números do setor que vêm crescendo ano após ano, quais foram os destaques da ABCON esse ano? Que balanço podemos fazer do ano?
Tivemos um ano de muitas realizações e conquistas. No campo jurídico e legislativo, 2025 foi considerado um ano estratégico para a consolidação da segurança regulatória no saneamento. Intensificamos o diálogo com a Agência Nacional de Águas (ANA), participando de inúmeras reuniões técnicas sobre normas de referência fundamentais para a implementação do novo marco legal do saneamento. Reforçamos o uso de dados e análises como base para a tomada de decisão e para o diálogo institucional. Em 2025, a ABCON consolidou a plataforma ABCON Data, que monitora os indicadores do setor a partir do Novo Marco do Saneamento, e atualizou o Panorama 2025 da participação privada no saneamento. Avançamos na proposta de implementarmos melhorias e inovações, com a aprovação de um novo Estatuto Social mais alinhado à realidade atual do setor e à própria evolução da entidade. O trabalho também contemplou a uniformização de processos internos, que passaram a ser documentados e organizados em plataforma digital, facilitando a transição e o trabalho de futuros gestores. Estivemos à frente das discussões sobre a implementação da Reforma Tributária, com intensa participação de seus associados em reuniões técnicas complexas. Fizemos eventos importantes para o setor e tivemos destaque na mídia e nas redes sociais. Foi um ano bom pra ABCON.
3. Quais são os principais gargalos do setor e como a ABCON vem atuando para minimizar danos?
Nosso setor tem um atraso histórico e metas ousadas de universalização dos serviços até 2033. Os desafios são imensos, passam por entraves técnicos e regulatórios, mas precisamos, acima de tudo, de segurança jurídica para atrair capital para cumprir nossas metas. A ABCON desenvolve um papel estratégico na representatividade do setor, tendo a responsabilidade de traduzir para os tomadores de decisão as dificuldades e anseios daqueles operadores que se encontram na ponta da cadeia de prestação dos serviços.
4. Tivemos em 2025 alguns avanços em decisões jurídicas e políticas que beneficiam o setor. De que forma a ABCON vai continuar trabalhando por mais regulação e por mais segurança regulatória?
2025 foi um ano de muitas vitórias tanto no âmbito do Congresso Nacional como no âmbito do judiciário. Nossa equipe vai continuar atuando atentamente junto aos temas pertinentes ao setor. Também vamos continuar contribuindo com as discussões e construções de normas de referência, com a interlocução com a ANA (Agência Nacional de Águas) e com os diversos ministérios.
5. Ano que vem a ABCON faz 30 anos. O que podemos esperar da ABCON nesse novo momento?
A ABCON chega aos 30 anos com um novo Estatuto Social, com mais associadas, com reforço na equipe técnica e com a missão de contribuir cada dia mais com o cumprimento das metas de universalização dos serviços de água e esgoto. Estamos com grandes expectativas em relação ao futuro da nossa associação.
6. Na sua gestão, a ABCON desenvolveu estudos e iniciativas como, por exemplo, o Conexões Saneamento que atraiu olhares de governantes, parlamentares, ministros, juristas, executivos do setor de infraestrutura e da imprensa para o setor. Em 2026, ano eleitoral, qual será a estratégia da ABCON para inserir o tema saneamento básico nos planos de governo dos candidatos?
Em 2026, queremos incluir o debate do saneamento nas agendas dos candidatos a cargos eletivos. Vamos reforçar a atuação junto aos candidatos aproveitando o ano eleitoral. Vamos garantir o compromisso dos políticos com o nosso setor, porque queremos um futuro mais promissor, com mais saúde e qualidade de vida para milhares de pessoas que ainda não têm acesso à serviços de saneamento básico.