Investimentos estimados em cerca de R$ 70 bilhões neste ano devem ampliar a presença de operadores privados no serviço de saneamento básico à metade dos municípios do país já em 2026. Ainda longe de atingir a universalização prevista para dezembro de 2033, que exigirá a necessidade de pelo menos R$ 900 bilhões em recursos, a Abcon Sindicon (Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto) projeta a presença privada em 2.764 municípios no próximo ano com base nos projetos em desenvolvimento que dispõem de cronograma ou passaram por consulta pública.

Para 2025, há a previsão de 26 processos licitatórios, abrangendo 849 municípios em todos as regiões do país. Do total, oito se referem a blocos regionais, onde estão concentrados os maiores investimentos. No ano passado, os aportes no setor atingiram R$ 92,4 bilhões, em 17 leilões regionais e municipais, com destaque para a desestatização da Sabesp e licitações no Piauí, Sergipe e Paraná (Sanepar). A expectativa agora é de que novas concessões sejam realizadas ao longo deste ano, especialmente no Norte e Nordeste.
Gesner de Oliveira, sócio executivo da GO Associados, avalia que as duas regiões devem atrair quatro dos cinco maiores leilões do ano, no Pará, Pernambuco, Paraíba e em Rondônia, sendo que este último entrou em consulta pública no dia 19 de março. “A concorrência do Pará será o primeiro grande leilão do ano, que envolve 126 municípios, com investimento estimado de R$ 18,8 bilhões. Em Pernambuco, a concessão envolve dois blocos, um deles formado por 24 cidades e, o outro bloco, constituído por 160 municípios. Esses avanços são essenciais para alcançar as metas de universalização dos serviços de água e esgoto no país”, explica Oliveira.
O leilão do bloco regional do Pará está marcado para a segunda semana de abril. Na sequência virão as licitações de Pernambuco, Paraíba, Goiás, Rondônia e de Minas Gerais (Vale do Jequitinhonha). Entre os municipais, que já têm editais publicados, estão os de Piratinga (BA), Pitangui (MG) e Barrinha (SP). Já o leilão para a PPP da Companhia Espírito-santense de Saneamento (Cesan), que prevê a concessão dos serviços públicos de esgotamento sanitário e gestão comercial de 43 municípios do Espírito Santo, está previsto para o primeiro semestre de 2025.
Para Oliveira, a elevação das taxas de juros pode representar um obstáculo à viabilidade econômica e financeira de novas concessões no setor de saneamento e em segmentos que demandam alto volume de investimentos em infraestrutura. “O aumento dos juros encarece o custo do crédito, que pode afetar a capacidade de financiamento de longo prazo. No entanto, as perspectivas para as concessões continuam positivas”, afirma.
Na mesma linha, a Abcon Sindicon entende que os resultados recentes mostram que o desempenho dos leilões está associado a características específicas de cada projeto, como porte, estrutura tarifária, garantias, percepção de risco e modelagem contratual.
Rogério Tavares, vice-presidente de relações institucionais da Aegea, diz que, para atrair investidores, as concessões precisam garantir previsibilidade regulatória, equilíbrio econômicofinanceiro e segurança jurídica. “Leilões recentes demonstram como essas variáveis impactam a competitividade no setor”, diz. Tavares afirma que a Aegea mantém análise criteriosa de cada oportunidade, assegurando que sua participação ocorra em projetos sustentáveis, alinhados à estratégia de crescimento da companhia e o compromisso com a universalização do saneamento.
O executivo diz ainda que a Aegea, que atende mais de 33 milhões de pessoas em mais de 760 cidades de 15 Estados, monitora continuamente novas oportunidades. “Nossa ambição é ligar a próxima casa e, assim, sucessivamente, com foco principalmente na ampliação da cobertura do serviço de esgotamento sanitário nas localidades onde atuamos, contribuindo para a universalização do saneamento”, afirma Tavares.
Ele lembra, no entanto, que a companhia investiu R$ 10,4 bilhões em 2024, sendo R$ 5,3 bilhões na expansão da infraestrutura. Com isso, ampliou em 400 mil as ligações de água em concessões já estabelecidas, beneficiando cerca de 1,2 milhão de pessoas. Novas operações iniciadas no ano passado, entre elas Águas de Valadares (MG), Ambiental Paraná (PR), Águas de Jaru (RO) e Águas de Palhoça (SC), também permitiram 500 mil ligações de água, beneficiando 1,4 milhão de pessoas.
O Grupo Águas do Brasil, que atende mais de 5 milhões de habitantes em 32 municípios do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, informa que começou o ano com um plano de investimentos de R$ 388 milhões direcionados para a construção de cinco novas estações de tratamento de esgoto (ETE) na região Serrana do Rio. Cláudio Abduche, presidente do grupo, explica que a Águas do Brasil tem o compromisso de investir mais de R$ 4 bilhões ao longo dos 35 anos de concessão.
Nos últimos dois anos, a operadora venceu a concessão da Rio+Saneamento, que abrange 18 municípios do Rio. “Recentemente, assumimos o saneamento de Teresópolis (RJ), que consideramos ser estratégico para nosso portfólio porque já operamos em Petrópolis (RJ) e Nova Friburgo (RJ)”, diz Abduche.
Fonte: Valor Econômico